quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O mal secreto em espaço público

Se você me pergunta:
Como vai?
Respondo sempre igual:
Tudo legal
Mas quando você vai embora
Movo meu rosto do espelho
Minha alma chora
Mal secreto, Jard Macalé e Wally Salomão

Foi publicada recentemente uma matéria num portal da grande mídia sobre a necessidade que os usuários das redes sociais sentem de estarem conectados a elas, a todo o momento. Justifica-se, segundo a matéria, pela ansiedade de checar o que os amigos estão fazendo, onde eles estão – já que muita gente faz questão de declarar em público o que faz e onde está o tempo todo – pelo receio que eles estejam a fazer algo mais interessante.
Abordagem válida e coerente. Até houve quem dissesse que de fato fica agoniado por achar que sempre haverá algo mais interessante pra fazer do que aquilo que se está fazendo, e por esse motivo, deixa de curtir o momento (pegando gancho da linguagem usual) por conta da preocupação em estar perdendo o que os demais estão publicando. Que tautologia insípida.
A minha teoria é outra. O fato é que estamos mais do que atolados na era do vazio, só que de modo bem mais trágico de que nos fala aquele filósofo francês. A nossa vida está tão vazia e carente de sentido que precisamos estar lá, compartilhando eventos, fotografias e comentários, pra ver se diminui aquela sensação de que não acontece nada de interessante na nossa vida, de que o tempo voa, escorre pelas mãos.
É divertido até, damos boas risadas, nos expomos a nosso modo, uns mais do que outros, e até sentimos que fazemos parte de uma comunidade, no meio daquela multidão silenciosa, composta de pessoas que aceitamos estarem presentes na nossa vida. Mas esse sentimento de pertencimento acaba assim que desligamos o computador – ou o celular, fica ao seu critério- e então nos damos conta de que estamos presos a um triste círculo vicioso, e o vento que faz girar  essa roda é a solidão. Ainda que você não tenha se dado conta, é essa senhora que te dá aquela pontadinha no peito quando você vai dormir, pensando  que teve um dia assim, assim, e  antes de cair no sono, te faz rememorar uma emoção mais forte ou aquela pessoa que você pensa todos os dias quando deita na cama (geralmente é mais de uma) e te faz ansiar por dias mais coloridos. Enquanto esses dias não chegam, você certamente tem o seu nome lá naquela lista, ao lado de uma bolinha verde, enquanto rola a página de atividades recentes, do início até o fim.
Meu desejo mais profundo é que chegue a hora em que todo mundo declare independência desse vício, e ainda que não goste daquele compositor, devo dizer que ele tem razão ao dizer que não há tempo que volte. Porque convenhamos, esse tempo gasto é um desperdício, não é?  Vamos nos permitir outras distrações, encontrar algum vício virtuoso. Uma paixão, quem sabe, qualquer que seja, um hobbie - e reparo aqui que hobbie parece ser coisa do meu tempo .  Vamos lá, vamos viver tudo que há pra viver. Faça uma festa em você mesmo. Seja você a taça onde os outros se embebedam. Let's Carpe diem.

Karollekis